Por Giuliana Latorre
Andando vagarosamente, vestido com uma calça de veludo boca de sino e uma regata preta, roupa que nota-se ser de décadas atrás, Serguei chega acompanhado a mais uma gravação do programa humorístico Show do Tom, da Rede Record. Sempre muito simpático ele agradece mais uma vez pela atenção dada ele, em suas mãos notícias de jornais sobre si, trouxe para mostrar ao Tom Cavalcante. Quando faz viagens longas, sempre vai acompanhado por algum amigo.
No dia seguinte a uma gravação do Show do Tom, Alex, um amigo que o acompanha em algumas vindas a São Paulo liga e diz que Serguei estava desesperado, pois havia esquecido alguns pertences no hotel, falava sobre um caderno. Por sorte, eles tinham guardado tudo, eram roupas, maquiagem, sapato, muitos objetos pessoais, não apenas um caderno.
Ao mesmo tempo em que aparenta ser frágil, sua magreza não esconde a atitude, presente no seu modo de andar, falar e em seus gestos. Quando começa a contar sobre sua vida ou fatos que aconteceram com ele, aparenta ser um jovem, de setenta e oito anos, que usa aplique no cabelo e maquiagem, é um vaidoso assumido.
Filho único, Sérgio Augusto Bustamante, mais conhecido por Serguei, cuidou dos pais, Domingos Bustamante, executivo da IBM e Heloísa, dona de casa, até o final da vida, disse que os pais eram mais liberais que os demais, e o deixava fazer o que tivesse vontade, como se mudar para os E.U.A. Aos doze anos se mudou para os Estados Unidos, na casa da Avó materna, Lia Anderson, em Long Island, pois em relatos, disse que não suportava viver em um país de terceiro mundo.
Quando o pai ficou doente, em 1973,voltou para o Brasil, mudaram-se para Saquarema, onde vive até hoje. Muito emotivo quando fala deles, conta lucidamente sobre esses fatos. A época das festas de final de ano são as mais difíceis para ele, pois diz que é sozinho e foi perdendo muitas pessoas próximas ao longo da vida. Agora os cachorros são sua família e sua banda Pandemonium o ajuda.
Um portal florido, cerca branca, a casa é cercada de verde, no corredor lateral externo vemos algumas bandeiras, entre elas, do Beatles e da Inglaterra. Quando entramos na residência nos deparamos com o verdadeiro templo do rock, que uma vez já recebeu a visita de Janis Joplin. Paredes cercadas por muitas fotos, panfletos de shows e diversas notícias de jornais, Serguei, a lenda do Rock, como é chamado, possui um cômodo de meditação, quase vazio, segundo ele, representa o psicodélico. No quarto em que dorme, encontramos um quadro do Jim Morrison, sob a cabeceira.
No Corredor, mais notícias emolduradas e uma bandeira dos Estados Unidos da América, país pelo qual Serguei possui um enorme apresso, "rasgando" elogios ao falar do país que morou durante duas décadas, onde conheceu Jim Morrison e Jimi Hendrix, além de ir ao Woodstock. Suas vestimentas, ainda relíquias da década de 60, dizem muito sobre ele, alegre e “mais sexy do que nunca”, ele diz, conta histórias fascinantes sobre sua vida, não somente das décadas de 60 e 70.
Na sua biografia “SERGUEI:O Anjo Maldito”, escrito por João Henrique Schiller, conta que Jimi Hendrix e Janis Joplin foram mortos pela CIA, ele na ambulância a caminho do hospital, asfixiado. Ela, invadiram sua casa, aplicaram sonífero em suas laranjas, quando foi fazer o suco, como costumava todas as noites, desmaiou, a CIA entrou e injetou uma overdose de heroína. Foi assim, que líderes de uma nação jovem americana foram silenciados, segundo Serguei. Em outra passagem ele conta um fato sobre Joplin e Hendrix:
“Certa vez ela (Janis) me contou que foi fazer um show com o Jimi e resolveu:
- Eu quero fechar o show! Ele não vai fechar o show! Eu sou a estrela do espetáculo! Ele não vai fechar! Eu sou Janis Joplin!
Aí, falaram isso pra ele, que respondeu:
- Ah! Ela quer fechar? Fecha! Pode fechar!
Ela ficou tão agradecida e tão maravilhada que, quando ele saiu, ela ficou esperando no carro. Aí ela bateu no rosto dele e disse:
- Come here, sweet heart...
Ela o beijou e o levou para um motel. Treparam atééé... Noite e dia!!!”
- Eu quero fechar o show! Ele não vai fechar o show! Eu sou a estrela do espetáculo! Ele não vai fechar! Eu sou Janis Joplin!
Aí, falaram isso pra ele, que respondeu:
- Ah! Ela quer fechar? Fecha! Pode fechar!
Ela ficou tão agradecida e tão maravilhada que, quando ele saiu, ela ficou esperando no carro. Aí ela bateu no rosto dele e disse:
- Come here, sweet heart...
Ela o beijou e o levou para um motel. Treparam atééé... Noite e dia!!!”
Serguei diz que nunca usou drogas, era movido por incensos e Jack Daniels, uma marca de Uísque. Ex-Comissário da Varig e cantor de Rock por volta de quarenta anos até os dias atuais, sua discografia conta com 11 sucessos. Estourou na rádio em 1965, com o compacto Alucinações e atualmente canta com a sua banda chamada Pandemonium, fazendo shows pelo Brasil.
Conta que em um Show que fez, em 2010, estava lotado, muitos jovens fizeram fila para entrar no camarim, foram entrando um a um, dando um beijo na boca dele, “foi uma loucura”, ele disse.
Pansexual assumido, atração estética ou sexual por qualquer gênero ou sexo, e com espírito livre conheceu Janis Joplin em 1968, em um festival do Parque Long Island, nos EUA. Seu amigo Laudir de Oliveira, percussionista da banda Chicago, veio ao encontro dele com uma garota que parecia uma cigana, era ela. No dia seguinte Joplin foi ver seu show e depois disso ficaram juntos, foram para a Califórnia e ela o apresentou ao Jim Morrison, Kris Kristofferson, Jimi Hendrix, entre outros.
Esse encontro teve uma continuação, em 1970, quando Janis Joplin foi expulsa do Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, onde estava hospedada, por querer nadar nua. Ela veio ao Brasil para descasar e encontrou Serguei: “Eu caminhava pela calçada em frente ao Copacabana Palace – naquela época a gente podia andar na Avenida Atlântica sem ser assaltado – quando vejo um casal bem diferente: um loiro alto, bonito, interessante e uma mulher com turbante e saia cigana. Puta que pariu! ‘Janis!’, gritei, e logo nos beijamos na boca.”
Foi assim que se encontraram pela segunda vez. Serguei costumava fazer apresentações em um local chamado New Holliday, levou Joplin e David Niehaus, seu acompanhante, o gerente barrou os três falando que aquela mendiga não podia entrar ali. Janis Joplin foi barrada, Serguei brigou com o Português e eles acabaram entrando. Ela subiu ao palco após ser apresentada, cantou sucessos como “What I’d Said, do Ray Charles, emocionado ele conta, ela foi muito ovacionada, todos deliravam. Nessa mesma noite, os três foram à praia, ficaram pelados e fizeram amor até o dia seguinte.
Serguei mostra uma foto em que estava beijando Janis Joplin na boca, diz que essa foto foi após uma briga dos dois, após o mau humor de Joplin, ela o xingou, ele revidou, após isso, ele tascou um beijo diante de muitos fotógrafos que estão de plantão para tirar a melhor foto. Ela era algo inatingível para ele, uma pessoa que ele queria ser.
Quando olhamos pela primeira vez, Serguei não parece do tipo de pessoa que faz humor, mas no ano de 2010, participou, como elenco fixo, do programa humorístico "Show do Tom", lá, compunha a bancada de jurados do quadro “Ridículos” e fazia participações especiais em outros quadros, como a sátira do programa “A Fazenda”, da Rede Record, chamado “O Curral”.
“- Serguei, Serguei, te vi no Tom, você estava ótimo”. Conta alegremente que as pessoas estavam super felizes que ele estava trabalhando no humorístico. Não só isso, apresentou um programa no canal Multishow, intitulado “Serguei Rock Show”, episódios de quinze minutos gravados em sua casa: O templo do Rock.
Com a vibração sempre alta e pela simplicidade, Seguei cativa. Adora estar acompanhado e por vezes polêmico. Recentemente, no show da cantora Rita Lee, os dois mostraram a bunda para os espectadores. A espontaneidade o segue, com a carreira de cantor ainda ativa e com o currículo pessoal invejável, Sérgio Bustamente não está aí para agradar e sim aproveitar todos os momentos que são proporcionados.